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Empresário montou a maior construtora do litoral sul de São Paulo
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Rodrigo doou 58 toneladas de alimentos em cestas básicas e 20 máscaras desde o início da pandemia
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Apaixonado pelo surfe, ainda pega onda quando sobra tempo
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Um de seus projetos é investir em atletas de ponta de outros esportes além do surfe
O paulista Rodrigo Pacheco nasceu e cresceu no bairro de Vila Mirim, em Praia Grande, na Baixada Santista, em São Paulo. Apaixonado por surfe, venceu torneios na infância e na adolescência, mas a “falta de grana” o afastou, na época, do sonho de ganhar a vida entre tubos e aéreos. A realidade o fez mergulhar em outra praia, a do empreendedorismo de resistência. Para arrumar alguns trocados, vendia garrafa vazia em ferro-velho, coxinha e sacolé na praia e pipa na vizinhança.
Hoje, aos 44 anos, Pacheco ainda pega onda quando o tempo permite. Ao contrário do que se poderia imaginar, sente-se muito útil ao surfe e, vez por outra, tem companhias ilustres nessas ocasiões. Explica-se: fundador, em 2004, da maior construtora e incorporadora do litoral sul paulista na atualidade, a Nossolar, situada entre as cem maiores do país no ranking Intec Brasil, Pacheco hoje patrocina cinco surfistas brasileiros de nível internacional.
Um deles é o fera Adriano de Souza, o Mineirinho, paulista do Guarujá, apesar do apelido, e segundo brasileiro a ser campeão mundial, em 2015, depois do também paulista Gabriel Medina. Os dois são expoentes da Brazilian Storm (Tempestade Brasileira), a geração de brasileiros que faz sucesso mundial no surfe nos últimos anos.
Desde o início da pandemia, o empresário doou 58 toneladas de alimentos em cestas básicas e 20 mil máscaras. Seu próximo projeto é patrocinar atletas paralímpicos e talentos de outros esportes. “Trabalhei muito, é certo, mas preciso retribuir, ao menos em parte, a mudança radical de destino que a vida me permitiu”, reconhece em entrevista ao R7.
E a mudança, de fato, não foi pequena. O pai de Rodrigo, Francisco Silva, conhecido como Seu Tatico, um dos 13 filhos de uma família pobre de Quixadá, no Ceará, passou por apertos no início em São Paulo.
“Às vezes não tinha dinheiro para comer dignamente”, conta Rodrigo. Francisco, seu pai, começou fotografando turistas, investiu as economias em máquinas fotográficas alugadas para amigos fazerem a mesma coisa e trabalhou em quiosque de praia.
Casado, conseguiu melhorar um pouco a vida da família – a mulher Ana, Rodrigo e mais três filhas – investindo o que guardava na construção e aluguel de pequenas casas.
Popular na região de seu bairro, Francisco foi eleito vereador em 1998 e 1992, numa delas com a maior votação em Praia Grande. Em 1994, na metade do segundo mandato, uma “pancada do destino” abalou as estruturas da família. Seu Tatico foi assassinado por dois menores na vizinha Santos ao reagir a um assalto. “Ele se encorajou ao ver os adolescentes, mas não era para contra-atacar”, admite o empresário.
Tatico deixou para a mulher a cota de participação na imobiliária que abrira em sociedade com um irmão. Rodrigo herdou um terreno de 135 metros quadrados em seu bairro e, como as irmãs, R$ 40 mil de um seguro de vida feito pelo pai.
“Mas minha mãe não admitiu deixar as dívidas do meu pai sem quitação”, lembra. “Ela pegou R$ 25 mil de cada um dos filhos para saldar os débitos. Fiquei com R$ 15 mil para começar a construir minha primeira casa – e ainda fui trabalhar na imobiliária com ela e meu tio.”
Na contabilidade de Rodrigo, o dinheiro da venda de uma casa na cidade rendia, naquele período, o dobro do investido no terreno e na construção. “Se você não gastasse nada, com a grana de uma você fazia duas”, calcula.
“Assim foi feito: com a ajuda de gente que trabalhava para minha mãe e muita economia, vendi a primeira e fiz duas. Passei as duas e fiz quatro. Vendi as quatro e levantei oito. E assim fui, até passar de 30 casas.”
Em 2003, um ano antes de abrir a Nossolar, Pacheco concluiu, de forma independente, o seu primeiro prédio, pequeno, de três andares. Dois anos depois veio o segundo, com cinco pavimentos. Hoje, a construtora responde por 16 edifícios. O mais luxuoso deles tem 31 andares, 20 deles de apartamentos, e duas coberturas de 670 metros quadrados. Cada uma estaria avaliada em cerca de R$ 15 milhões.
Casado e pai de três filhos, Rodrigo hoje surfa na onda do poder de fogo gerado pelo patrimônio robusto para realizar seus desejos. “Posso pensar com tranquilidade em projetos como apoiar os paraolímpicos e outros esportes”, anima-se.
“Educação e esporte ajudam a reduzir a criminalidade e a violência que vitimaram meu querido pai e tanta gente. Não quero ser político como ele foi. Quero ajudar também atletas que inspiram comunidades e se tornam ídolos de crianças. E, claro, permanecer próximo do que sempre amei: o surfe.” O esporte e a sociedade agradecem.