Conhecido como Sacolinha desde os tempos em que era cobrador de lotação em São Paulo, Ademiro Alves de Sousa, de 37 anos, aderiu ao apelido como pseudônimo literário e é assim que o escritor é conhecido. Da periferia para o mundo, o autor tem nove livros publicados e, alguns deles, traduzidos para outros três idiomas.
Quando jovem, Sacolinha nunca gostou de leitura. Mas foi para se distrair que, em 2002, ele descobriu que ler era muito mais que um passatempo. Segundo o escritor, ele não tinha com quem conversar sobre os livros, e naquela época, na periferia, era estranho ser leitor.
“Eu lia muita coisa e não tinha com quem falar sobre isso. Então, em 2013, descubro a autora Carolina Maria de Jesus e seu livro "Diário de uma Favelada". Decidi sair para a rua e falar com meus amigos, pois não acreditava no que estava lendo. Uma mulher, negra, moradora de favela, escrever uma obra que foi sucesso na década de 1960, logo pensei que eles iriam se interessar. Mas não encontrei nenhum deles”, relembra.
O escritor relata que, nesse momento, percebeu duas cenas óbvias na rua: uma associação de moradores desenvolvendo projetos sociais e um trabalhador da empresa de energia fazendo manutenção em um poste, enquanto uma senhora, moradora, oferecia água e um café para o homem.
“Ali, percebi que a periferia não era o que costumava ser relatado por quem não vivia na comunidade. E foi lendo Carolina Maria de Jesus que percebi a periferia solidária”, relata Sacolinha. A partir de então, ele se tornou escritor. Quando decidiu relatar, em suas palavras, a sua periferia.
'Acreditando no meu trabalho e no meu sonho%2C investi'
Seu primeiro livro “Graduado em Marginalidade” foi publicado em 2005, de forma independente. “Fiz rifa, andei a pé, economizei, passei dificuldades, mas acreditando no meu trabalho e no meu sonho, investi”, diz Sacolinha sobre o início de sua jornada.
Este ano, ele publicou seu 9º livro: "Entre amar e morrer, eu escolho sofrer: Um conto da pandemia".
Além dos livros, o escritor realiza projetos sociais de intervenção urbana e relacionados ao incentivo à leitura: “Assim como eu tive minha vida mudada graças aos livros, outras pessoas também podem ter.”
Falar além da escrita
Sacolinha é um homem negro, da periferia, que conseguiu com dificuldade e esforço atingir seus objetivos e sonhos. E, como forma de luta, ele usa a literatura, seus livros. Por meio de seu trabalho, o escritor ajuda jovens das comunidades a aprender e a acreditar no futuro.
Neste Dia da Consciência Negra, Sacolinha lembra a importância de discutir e enfrentar o racismo: "É preciso falar para entenderem."
Além disso, ele indica a necessidade de denunciar o crime. "Tem muita coisa que ficou abafada porque ninguém denunciava ou falava sobre. É preciso denunciar, se não, nada muda. Gritem, gritem sempre", diz o escritor.