Um vídeo divulgado na última sexta-feira (7) nas redes sociais mostra um entregador de aplicativo sofrendo racismo em um condomínio de luxo, na cidade de Valinhos, interior do estado de São Paulo.
Enquanto o motoboy fazia sua entrega no local, um homem branco começou a xingá-lo e ofendê-lo com palavras racistas e classistas: "Você tem inveja disso aqui", diz o homem apontando para a própria pele.
Em entrevista à Record TV, o entregador Matheus Pires, de 19 anos, diz ter se sentido humilhado. "Ele cuspiu e falou que eu era macaco", disse. O caso ganhou repercussão nacional e trouxe à tona mais uma vez o debate sobre o racismo em nossa sociedade.
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No sábado (8), um delegado do Distrito Federal foi com a filha até uma lanchonete onde foi empurrado, ameaçado e xingado de macaco. A PM encontrou o agressor e o levou à delegacia, onde foi preso. "Vivemos um racismo estrutural. O racismo está entranhado em todas as classes sociais", disse o delegado Ricardo Viana.
Em seu livro Racismo Estrutural, Silvio Almeida afirma que a desigualdade racial é um processo histórico que levou ao racismo estrutural, um conjunto de práticas culturais, interpessoais e institucionais que colocam um grupo em posição inferior devido a sua cor.
"A legislação antirracista precisa ser mais ampla e menos punitiva. Por isso, é importante existir reparações, como as cotas, que rompem os obstáculos que a sociedade criou", diz Wallace Corbo, advogado e professor da FGV (Fundaçao Getúlio Vargas). Para ele, abrir os espaços é uma boa maneira de combater o problema estrutural.
Para Corbo, leis que criem reserva de vagas no Congresso para negros, por exemplo, seriam mais eficazes no combate ao racismo do que leis de punição. "Só a punição não consegue avançar na luta contra a desigualdade racial, por isso é preciso mudar instituições, estruturas sociais e imaginários", afirma ao destacar a importância da representatividade.
Combate pela educação
É na escola que o combate ao racismo encontra campo fértil. "A escola é o primeiro espaço de socialização de um indivíduo. Espaço onde ocorre momentos de consolidação da forma de ver mundo", diz Corbo.
Apesar de a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação) estabelecer que não exista discriminação, na prática isso não ocorre. "Não é pela existência de uma lei que esses problemas são eliminados no universo da educação. Mas, a escola, estando resguardada pela LDB, auxilia em condutas reparadoras e construtivas para tentar cessar o racismo no interior da educação", explica a educadora e mestranda em Psicologia do Desenvolvimento, Sandra Resende.
Para Lisneide Costa, pesquisadora e integrante do NEAB (Núcleo de Estudos Afro-brasileiros) da UFU (Universidade Federal de Uberlândia) e graduanda em Direito, é necessário promover as condições para o desenvolvimento de estratégias educacionais tanto na formação básica quanto na superior.
Para isso, a pesquisadora acredita ser fundamental um trabalho de sensibilização e diálogo com as distintas áreas do conhecimento por meio de leis que versem sobre o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana. "Uma política pública pensada e construída de uma forma orgânica e participativa com a sociedade, considerando o contexto social em que vivemos", observa.
Corbo considera ser relevante trabalhar as questões sobre racismo dentro da educação. "Não basta dizer que são todos iguais. É preciso ensinar que a realidade existe para que compreendam, dentro do limite de cada faixa etária, e rompam esteriótipos".
Dicas de leitura
A pedido do R7, Corbo fez uma lista de cinco livros para compreender o racismo e ajudar a combatê-lo.
:::Racismo Estrutural, de Silvio Almeida. No livro, o autor discute o racismo dentro da estrutura social, política e econômica da sociedade brasileira.
::: Lições de Resistência, de Lígia Fonseca. Trata-se de um resgate da obra jornalística do ex-escravo e líder abolicionista Luiz Gama, com mais de 60 artigos que ele publicou em jornais de São Paulo e do Rio de Janeiro.
::: Memórias da plantação: Episódios de racdianismo cotio, de Grada Kilomba, uma compilação de episódios de racismo, escritos sob a forma de pequenas histórias psicanalíticas.
::: Água de Barrela, de Eliane Alvez Cruz. O romance inclui a sobrevivência das mulheres negras que trabalhavam para suas patroas e sinhás.
::: O Olho Mais Azul, de Toni Morrison, conta a história de uma menina negra que, sofrendo preconceito por sua cor, sonha com uma beleza diferente da sua.